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quinta-feira, 25 de março de 2010

O cusco do Tio Assis

Conta a história que o Tio Assis, campeiro véio das bandas da Bossoroca, se aventurou em uma caçada pros lados da costa do rio Ibicuí, coisa mui cuiuda, e foi levando com ele seus apetrechos de caça, mais ou menos quatro espingarda calibre 12, vinte caixas de cartucho, dois facão dos "três-listra", quinze garrafão de canha com mel e seu inseparável cusco "Rasga Bucho", um guaipeca magro queném canela de sabiá, mas que o Tio Véio dizia que era o cachorro mais corajoso, raçudo, macanudo, bagudo e taura das 4 bandas do rio Uruguai (A banda oriental, a ocidental, a "de cima" e a "de baixo", segundo a classificação do Tio véio).
Pués que, depois de 60 dia longe de sua tapera, voltou pra casa montado no lombo do tordilho véio, mas solito, sem seu guaipéca. No mesmo dia o tio véio aparece triste, desolado, meio choroso, pra tomar uma canha forte no bolichão do Zé Pedroso, cumpadre e meio contra-parente da irmã do tio, no que o Zé pergunta apressado:
- Mas que que houve cumpadre véio! Tá triste por demais tchê! Brigou com uma das tuas china que tá assim xirú??
- Não cumpadre Zé, foi meu companheiro, meu cusco Rasga-Bucho que morreu... Morreu na caçada cumpadre!!
- Mas cumé que morreu?
- Foi uma onça cumpadre! Me acredita que eu sai de madrugada do acampamento pra dar uma limpada na buchada, me acroquei perto dum pé de angico e tava castigando umas macega quando o cusco começo de latir... Eu não podia cortar o serviço no meio, então quando dei conta da obra sai correndo de atrás do bicho... Pois não é que o animal tinha encontrado uma onça, e eu ali, só de cerolão e sem minha espingarda, e o cusco tava lá, olhando olho-no-olho com a bicha véio e rangindo os dente! E quando o taura me viu fico todo cuiudo, correu pra cima da endiabrada e deu uma latida, mas uma baguala duma latida, inté eu que conheço o cusco me correu um frio na espinhaço... Pués a bichana, quando ouviu o latido, começo de fugir cumpadre, deu uns 7 passo pra trás, se ajoelho, começo a chora, se cagou tudo, rezou três "padre-nosso", chamou a mãe e já tava cavocando o buraco pra sepultura quando o Rasga-Bucho se agarrou de dente na goela da coitada... Pobre da infeliz, não pode nem dar um miadinho, caiu dura queném lingua de bêbado!
E o cumpadre Zé, meio desconfiado da história, pergunta:
- Mas cumpadre, tu não tinha me dito que teu cusco que tinha morrido?
E o tio:
- Mas foi isso mesmo compadre, o cusco morreu... Morreu engasgado... Ele quis engoli a onça inteira duma vez só, e quando tinha engolido já pra além da metade da tinhosa uma ripa da costela da bicha quebrou e se atravessou no bucho do cusco, e não teve quem desengasgasse o infeliz, tchê!!

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Mais ditados do tio véio...

Buenas, mais umas que se ouve da boca do ilustre bossoroquense:

• Afiado que nem navalha de barbeiro caprichoso.
• Agarrado que nem carrapato em bago de touro.
• Apertado que nem rato em guampa.
• Apanhou mais que mulher de brigadiano.
• Bueno que nem namoro no começo.
• Caiu bem que nem chuva em roça de milho.
• Chiar que nem uma locomotiva no cio.
• "Viúva nova é que nem lenha molhada em lareira: -Numa ponta chora, mas na outra pega fogo !"
• Cobiçada que nem anca de viúva nova e bonita.
• "Que nem tosa de porco: muito grito e pouca lã."
• Contente que nemcusco de cozinheira.
• De boca aberta que nem burro que comeu urtiga.
• Devagar que nem enterro de a pé.
• Dormir atirado que nem lagarto.
• Encardido que nem peleia de caudilho.
• Encordoado que nem teta de porca.
• Enfeitado que nem bidê de china.
• Engraçado que nem gorda botando as calça.
• Esfarrapado queném poncho de gaudério.
• Esperto que nem gringo de venda.
• Feia que nem mulher de cego.
• Firme que nem prego em polenta.
• Frouxo que nem peido em bombacha.
• Gordo que nem gato de bolicheiro.
• Grosso que nem rolha pra poço.
• Grudado que nem bosta em tamanco.
• Mais alto que cavalo de tenente.
• Mais amontoado que uva em cacho.
• Mais apertado que nó de soga em dia de chuva.
• Mais apressado que cavalo de carteiro.
• Mais arisca do que china que não quer dar.
• Mais assanhada que china solteira em festa de casamento.
• Mais assustado que véia em canoa.
• Mais atirado que alpargata em cancha de bocha.
• Mais baixo que vôo de marreca choca.
• Mais baixo que barriga de cobra.
• Mais bonita que laranja de amostra.
• Mais branco que perna de freira.
• Mais caro que argentina nova na zona.
• Mais chato que chinelo de gordo.
• Mais ciumenta que mulher de tenente.
• Mais comprido que esperança de pobre.
• Mais comprido que suspiro em velório.
• Mais conhecido que a reza do padre-nosso.
• Mais conhecido que parteira de campanha.
• Mais constrangido que padre em zoma.
• Mais curto que coice de porco.
• Mais magro que cachaço emprestado.
• Mais demorado que enterro de rico.
• Mais desconfiado que cego que tem amante.
• Mais difícil que nadar de poncho.
• Mais duro que pau de preso.
• Mais encolhido que tripa grossa na brasa.
• Mais enfeitado que burro de cigano em festa.
• Mais enfiado que cueca em bunda de gordo.
• Mais engraxado que telefone de açougueiro.
• Mais enrolado que lingüiça de venda.
• Mais entravado que carteira em bolso de sovina.
• Mais escandaloso que relincho de burro chorro.
• Mais faceiro que gordo de camiseta.
• Mais faceiro que guri de bombacha nova
• Mais fácil que fazer falar um rádio.
• Mais fechado que baú de solteirona.
• Mais fedorento que arroto de corvo.
• Mais feio que encoxa a vó na fila da hóstia.
• Mais fino que assobio de papudo.
• Mais firme que catarro em parede.
• Mais folgado que cama de viúva.
• Mais forte que peido de burro atolado.
• Mais gostoso que beijo de prima.
• Mais grosso que cintura de sapo.
• Mais grosso que mandioca de dois anos.
• Mais grosso que dois porco abraçado.
• Mais grosso que pescoço de elefante com caxumba.
• Mais importante que o irmão da rapariga do cabo.
• Mais inútil que buzina em avião.
• Mais inútil que mijar em incêndio.
• Mais ligado que rádio de preso.
• Mais ligeiro que tainha de açude.
• Mais linda que camisola de noiva.
• Mais magro que guri com solitária.
• Mais medroso que cascudo atravessando galinheiro.
• Mais metido que piolho em costura.
• Mais metido que dedo em nariz de piá.
• Mais nervoso que anão em comício.
• Mais nervoso que gato em dia de faxina.
• Mais nojento que mocotó de ontem.
• Mais perdido que surdo em bingo.
• Mais perdido que cusco em procissão.
• Mais perdido que chinelo de bêbado em cancha de bocha
• Mais perdido que cego em tiroteio.
• Mais perfumado que mão de barbeiro.
• Mais pesado que pastel de batata.
• Mais quente que frigideira sem cabo.
• Mais quieto que guri cagado.
• Mais sério que guri mijado.
• Mais sujo que pau de galinheiro.
• Mais tranqüilo que água de poço.
• Mais tranqüilo que carrera de dois cavalo manco.
• Mais triste que último dia de rodeio.
• Mais vaidoso que guri em zona.
• Mais velho que mijar em arco.
• Que nem carro de funerária: só leva.
• Sofrer como joelho de freira na Semana Santa.
• Solito como galinha em gaiola de engorde.
• Tranqüilo e sereno que nem baile de moreno.
• Virar-se mais que minhoca na cinza.
• Vivo como cavalo de contrabandista.

Lógica Gaudéria

Pués que o tio Assis véio resolveu de dar uma galopeada de fim de tarde, certa feita, e não se apercebendo da distância que já tinha percorrido desde que saiu de sua estância na velha e e querida Bossoroca, resolveu que não valia mais a pena volta pra casa naquele dia e resolveu ficar no vilarejo adonde tinha chegado, botou o criolo véio pra tomar água no "arroio" guaíba e se instalou por uma noite na tal de Porto Alegre.

Conta então a história que o taura véio, cansado da galopeada, resolveu se enfiar no primeiro bolichão com umas luz colorida que viu pela frente a fim de domar uma pingüancha, se é que vocês me entendem. Então o tio véio, do alto da sua grossura, se enfia num bar chique, cousa das modernidade, destes com homem de brinco e mulher de cabeça raspada, vai lá para um canto do balcão, pede uma cachaça cozida nas pitanga e fica só bombeando o movimento e tragueando a fortinha.

Daqui a pouco senta ao lado dele uma guria com um jeito meio esquisito, pede uma tal de "vodca" e puxa assunto com o índio véio.

-Tu é peão de estância mesmo?

- Sô, e como sô tchê! Nasci numa estância. Me criei lá. Laço, pealo e gineteio. Capo touro e cavalo. Marco o gado. Mato e carneio. Faço de tudo numa estância. Aí o tio véio, pra fazer um grau, estufa o peito e começa a se aprochega da pingüancha.

-E tu guriazita bonita? Que que tu fazes na vida?

-Qual é, meu? Eu sou lésbica.

-Lésbica?! Má que que é isso tchê?

-Eu gosto de mulher. Levanto pensando em mulher. Trabalho pensando em mulher. Almoço pensando em mulher. Deito pensando em mulher. Durmo sonhando com mulher. É isso. Tchau!

A bicha véia se alevanta e vai embora, já meio braba.

O tio véio fica ali no balcão mesmo, mais perdido que filho de puta em dia dos pais, sem entender muito da história da guria. Termina a cachaça e pede outra. Fica matutando entretido com os pensamentos. Nisso senta outra guria do lado dele. Ele fica meio desconfiado, mas fica quieto queném cemitério em dia de Natal. Aí a guria pergunta:

-Tu és peão de estância, dos legítimos?

Ele olha bem prá ela, faz uma pausa conferindo o raciocínio, e tasca:

- Pois olha tchê, até a bem pouquito eu era peão, só que agora a poco acabei de adescobri que na verdade eu sou lésbica tchê!!

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Tio Assis e a Cestiada

Contam pelas bandas da velha e querida Bossoroca que o Tio Assis, bagual véio dos pampas, certa feita tomou um trago meio forte por demais, despuês de um churrasco macanudo em uma carreira de cavalo, coisa que pro tio véio era canha miúda, mas que apavorou muita gente na cancha, mais ou menos um garrafão de canha cozida com mel e alecrim, doce por demais, e foi dar uma cestiada, espichado num pelego, escoradito numa figueira...
Puês que o tio véio se passou no sono, dormiu até a noite, quando, de repente, acordou meio de supetão com um barulho de passos que vinham vindo devagarzito por detrás da figueira... Como o tio véio é um bagual mui prevenido, já passou a mão na guaiaca atrás do seu 38 cano triplo, 26 tiro, um parmo e meio de cano, macanudo por demais, mas lembrou que tinha esquecido o cuiudo véio no quartinho da Rosario, china nova, castelhana, linda por demais, que trabalhava no zonão da tia Nastácia...
O tio véio, muito bagual por natureza, hôme daqueles que não precisa dum trabuco pra ser mais macho que um batalhão inteiro de milico, montou uma tocaia pra se preveni, pois a noite tava mais escura que zona de china feia, ficou encostadito na figueira, só na espreita, quando, de repente, pulou um vulto de trás da centenária árvore, no que o tio véio, num golpe de reflexo, agarrou com as 2 mão no saco do índio véio que apareceu, que na hora começou a gemer. O tio véio gritou:
- Te acusa bagualo, quem tu é?
E o vulto não falou nada, só gemia queném um endiabrado... O tio véio agarro a aperta com mais força o saco do bagual, quase juntando as mão, e berrou:
- Quem tu é, fiadumasputa!!! Te acusa gaudério!!!
E o vulto denovo não falou nada, só resmungava e gemia mais que vaca parindo de enviasado, quando o tio véio resolveu torcer o saco do infeliz, apertando tão forte que cravava a unha na carne e torcendo tanto que quase arrancava os ovos do índio, e gritou:
- Desgraciado, quem tu é fiadumasputa!!!
Quando o vulto, no meio dos gemido e da berração, gritou:
- AIIII!!! EU SÔ O BASTIÃO CUMPADRE...
E o tio:
- Que Bastião, não to me alembrando de ti vivente?
E o vulto:
- AIIII!!! BASTIÃO CUMPADRE, O MUDO LÁ DA VILA!!!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Modernidades da Campanha

Contam pelos cantos da velha Bossoroca que, não há muito tempo atrás, chegou finalmente a luz elétrica ao fundo de coxilha adonde vivia o véio assis...
Nada muito sofisticado, bem à moda campeira, sem fios nem nada dessas modernidades... Na verdade era tudo obra de um alemão véio que se cansou de tomar cerveja quente e resolveu fazer uma roda d'água numa sanga no fundo do lote pra gerar energia e mover uma geladeira caindo os cacos, mas que também enchia bateria de caminhão pros vizinhos terem luz em casa, cobrando um precinho, é claro...
Pues que o tio Assis ficou sabendo das novidade e resolveu comprar um rádio... Foi pra vila e briqueou um rádio véio, Siemens, todo de madeira, quase do tamanho dum fusca, movido à bateria, em troca deu meio alqueire de terra e uma meia dúzia de rês pro turco, que fico mais facero que mosca em balde de melado...
Então, o tio véio meteu o rádio na caçamba do seu caminhão fenemê, e se boliou pra estância do alemão, pra mor de encher a bateria e botar a radióla pra fazer barulho...
Chegando na casa do Fritz, desceu com a bateria e gritou:

- Ô de casa!! O alemão véio!! Vim te trazê essa porquêra aqui pra ti carrega, pro meu rádio... E vê se coloca no mínimo umas 6 marca do Teixeirinha e do Gildo de Freitas, que senão eu não pago a carga, tchê!!

Arqueologia Campeira

Conta a história que o já famoso tio Assis, despois de tomar umas e outras no cabaré da tia Nastácia, escutou uma fofoca que rodava lá pelos pagos bossoroquenses que os tal dos americano tinham descoberto fios de cobre em um sítio arqueológico de mais de 15.000 anos, concluíram então que os índios americanos já tinham telefone nessa época...
Algum tempo depois, agora depois de uma parelha de bocha, esporte oficial da campanha, chegou no ouvido do véio Assis a história que no México encontraram em um sítio arqueológico de mais de 30.000 anos restos de fios de vidro, concluíram então que os Astecas já tinham internet banda larga nessa época...
Então, o véio muito inconformado da vida, exclamando "Mas baaahhhh tchê! Oigaletê! Meu Rio Grande véio não pode fica pra tráis..." e resolveu escavar um "cantinho" no fundo da sua roça, uns duzentos hectares na berada de um oitão de tapera...
O tio véio arrebanhou um enxadão, um picão, uma cavadera e 13 fardo de canha da buena e se atracou no serviço...
Cavocou, cavocou, e não achou nada...
Cavocou mais e mais, e não achava nada...
Depois de cavocar uma cratera de setenta e nove metros, quarenta e oito centímetros e seis milímetros (não arredondou o número, já que o tio véio não ia passar por mintiroso por causa de meio metro, né tchê!), o tio véio desistiu da empreitada e resolveu terminar sua busca com a seguinte conclusão, proferida em um botecão de campanha, depois de alguns tragos de canha cozida com mentruz:

"Despuês de muita cavocação, sem encontra bosta de fio nenhum, adescubri que os bugre guarani, pra mais de cem mil ano atrás, já tinham telefone celular tchê!!!"

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Finado Jurandir

Contava-se que na época que lançaram a primeira máquina de tirar foto, o tio Assis fico meio assim com aquela coisa, mas a única pessoa que tiro uma foto dele, diz que foi o finado Jurandir, que tinha muito respeito pelo tio Assis. A foto é única, o Tio Assis deixou tirar, mas sem muita frescura. Contou o finado Jurandir que a foto era quando o tio Assis saiu com seu tordilho negro pelo pago a fora, manhã cedo de inverno, como sol raiando e uma pequena camada de geada no campo, conta-se que o índio véio foi tira satisfação com tal de Chuck Norris, que veio pro Rio Grande do Sul, em Alegrete depois de atira um sapato no ex-presidente George Walker Bush. Mas como o tio Assis fico sabendo de uns certos causos do mesmo, resolveu tira satisfação.
O tal de Chuck Norris dizia pro pessoal do alegrete que no filme " O Chamado ", quando ele assistiu o telefone tocou e uma voz para ele disse: - Sete dias. - Aqui é Chuck Norris. - Desculpe foi engano. Mas como em 99% dos causos do Tio Assis, o infeliz não viveu pra conta o resto da história. Dizia o finado Jurandir.